domingo, 18 de outubro de 2009

Criei todas as festas, todos os triunfos, todos os dramas.


Chega um tempo,em que se está tão (não acho palavra melhor q essa) machucado,que vc acaba se acustumando com a dor e fazendo dela uma aliada,acho q isso já foi tão dito;poetas escrevem sobre isso a todo momento.
Na verdade temos medo(tenho medo) de considerar ela uma companheira e me acustumar e me conformar com esse estado,alguem me disse uma vez me disse q a tristeza vicia, o estado letárgico,aquele estado em q o corpo se deixa levar pela correnza se torna,não comodo, mas o corpo se entrega
O MEDO
Em verdade temos medo.Nascemos escuro.As existências são poucas:Carteiro, ditador, soldado.Nosso destino, incompleto
E fomos educados para o medo.Cheiramos flores de medo.Vestimos panos de medo.De medo, vermelhos riosvadeamos.
Somos apenas uns homense a natureza traiu-nos.Há as árvores, as fábricas,Doenças galopantes, fomes.
Refugiamo-nos no amor,este célebre sentimento,e o amor faltou: chovia,ventava, fazia frio em São Paulo
Fazia frio em São Paulo…Nevava.O medo, com sua capa,nos dissimula e nos berça.
Fiquei com medo de ti,meu companheiro moreno,De nós, de vós: e de tudo.Estou com medo da honra
Assim nos criam burgueses,Nosso caminho: traçado.Por que morrer em conjunto?E se todos nós vivêssemos?
do homem só. Ajudai-nos,lentos poderes do láudano.Até a canção medrosase parte, se transe e cala-se
Faremos casas de medo,duros tijolos de medo,medrosos caules, repuxos,ruas só de medo e calma.
E com asas de prudência,com resplendores covardes,atingiremos o cimode nossa cauta subida
O medo, com sua física,tanto produz: carcereiros,edifícios, escritores,este poema; outras vidas
Tenhamos o maior pavor,Os mais velhos compreendem.O medo cristalizou-os.Estátuas sábias, adeus.
Adeus: vamos para a frente,recuando de olhos acesos.Nossos filhos tão felizes…Fiéis herdeiros do medo,
eles povoam a cidade.Depois da cidade, o mundo.Depois do mundo, as estrelas,dançando o baile do medo.
Carlos Drummond de Andrade

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