Bakuninista Revolucionário ''
gosto muito desses socialistas burgueses que nos gritam sempre: ?
Instruamos primeiro o povo e depois o emancipemos?. Pelo contrário nós
dizemos: Ele que se emancipe primeiro e se instruirá ele próprio'
logo
após a morte de Bakunin em 1876, inicia-se no interior do movimento
operário europeu, no interior mesmo da ?ala federalista? deste movimento
operário uma profunda revisão teórica
e fundamentalmente política daquilo que Bakunin havia sistematizado
enquanto anarquismo, e esta revisão ? tão nefasta para o futuro do
anarquismo ? inicia-se com a introdução do ?comunismo? enquanto
explicação última do programa anarquista. O defensor máximo desta
revisão foi o Sr. Piotr Kropotkin.
Em
um primeiro momento pode ser estranho que uma ? aparentemente ? mínima
revisão da sistematização de Bakunin pudesse ter conseqüências tão
funestas para o socialismo e o conjunto do proletariado. Bakunin havia
definido que o programa do anarquismo era o coletivismo, ou seja, uma
sociedade onde a propriedade seria coletiva e o direito a participação
no fruto da produção estaria condicionada pela participação nesta mesma
produção: ?De cada um de acordo com suas possibilidades, a cada um de
acordo com seu trabalho?. O fundamental aqui é a afirmação de uma
sociedade de trabalhadores, onde não existe qualquer possibilidade de
desenvolvimento de classes ociosas e onde a sociedade controla a
produção e a distribuição no âmbito de seu sistema econômico, não o
deixando a mercê dos interesses privados (como no capitalismo).
A
idéia do comunismo ? ?De cada um de acordo com suas possibilidades, a
cada um de acordo com suas necessidades? ? é plenamente desenvolvida no
âmbito da chamada ?Escola Alemã? que tem por ideólogo o Sr. Karl Marx e
está profundamente vinculada ao conjunto das racionalizações marxianas.
Um dos principais responsáveis pela revisão que introduziria o comunismo
enquanto programa do anarquismo foi Carlo Cafiero, um antigo
colaborador de Marx e Engels e que antes de sua morte volta a
associar-se a eles. Ou seja, a origem do comunismo dos anarco-comunistas
está em Marx. A idéia do comunismo é extremamente problemática pois
lança a discussão sobre sua realização para o plano do absurdo. Em Marx e
na tradição marxista, o comunismo nada mais é do que um elemento
retórico que legitima a ditadura do partido único enquanto programa a
ser realizado pela revolução popular, é a chamada fase de transição.
Entre os que fazem a revisão do anarquismo haverão duas linhas de
interpretação distintas com relação à implementação do comunismo:
Malatesta vai admitir a possibilidade de uma etapa coletivista de
transição ao comunismo; já Kropotkin, um inveterado idealista, vai
entendê-lo como ápice de um processo evolutivo da humanidade.
Aqui
está o núcleo central de todos os problemas, desvios e deformações que a
idéia do comunismo traz ao revisionismo do anarquismo. No comunismo não
há regulação social da economia, o indivíduo é o soberano absoluto na
produção e na distribuição dos bens materiais, tudo girando em torno de
sua necessidade. É importante ficar claro que a ?necessidade? é algo
absolutamente subjetivo e arbitrário, ou seja, enquanto um homem pode
ter a ?necessidade? de viver e consumir com simplicidade um outro pode
ter a ?necessidade? de ter tudo a toda hora e, de acordo com o
comunismo, nada pode se interpor a esta ?necessidade? individual já que
ela é o centro em torno do qual gira a própria sociedade. Tamanho
absurdo encontra uma solução autoritária e mecanicista na teoria
marxista: a ditadura do Estado Popular se encarrega de condicionar
moralmente as massas e de desenvolver ao infinito as forças produtivas
com vistas a atingir uma abundância permanente. Já com Kropotkin e seus
seguidores se vai cair no educacionismo, no evolucionismo cientificista e
no flerte com o liberalismo.
Kropotkin
entende que o comunismo exige um adequada preparação moral das massas
para que as ?necessidade? de uns não se oponham às ?necessidades? dos
outros e façam ruir esta verdadeira ?cidadela de anjos?. Assim sendo, de
maneira extremamente coerente, Kropotkin assume uma linha política
condizente com o evolucionismo biológico que já vinha sistematizando
como núcleo de sua elaboração intelectual relativa à história das
sociedades humanas. Para Kropotkin, a humanidade evoluía inexoravelmente
rumo a formas elevas de apoio mútuo e neste processo evolutivo (que
guardaria semelhanças com aquele de animais sociais como as formigas e
as abelhas) tendia a romper com as estruturas sociais opressivas tais
como a dominação burguesa.
Desta
maneira caberia aos ?anarquistas kropotkinianos? agir de maneira a
esclarecer e a educar intelectual e moralmente as massas no sentido de
avançar o processo evolutivo que levaria à consolidação do comunismo.
Assim e naturalmente Kropotkin e seus seguidores tenderam a se afastar
do movimento operário e se aproximar da intelectualidade burguesa no
sentido de convence-la a trabalhar no sentido de educar moralmente as
?massas ignorantes? de proletários, como afirma Kropotkin neste trecho:
?não tardei em reconhecer que não se produziria nenhuma revolução,
pacífica ou violenta, enquanto as novas idéias e o novo ideal não
tivessem penetrado profundamente na própria classe cujos privilégios
econômicos e políticos estavam ameaçados?.
Eis
aqui claramente o nível de profundidade da revisão liderada por
Kropotkin com relação aos pressupostos desenvolvidos por Bakunin. Ao
invés do anti-cientificismo de Bakunin, eis o evolucionismo biológico
enquanto matriz teórica. Ao invés do método analítico e político
materialista tal como formulado por Bakunin, eis o idealismo analítico e
o educacionismo enquanto prática. Ao invés do classismo intransigente e
revolucionário de Bakunin, eis a burguesia assumindo o papel de
conduzir o proletariado a sua elevação moral. Estas deformações vão
conduzir a outras no plano prático. A idéia de organização vai ser
violentamente atacada pelos kropotknianos em perfeita concordância com
seus pressupostos teóricos. Se a sociedade comunista é aquela em que o
indivíduo e suas ?necessidade? sujeitam o conjunto da sociedade, porque
então o indivíduo que se educa hoje moralmente para este futuro deveria
?castrar-se? frente a necessidades organizativas coletivas que diferem
das suas individuais. É destas maneira que vai ganhar fôlego um
agressivo individualismo anti-organizativo entre os kropotkinianos, e é
deste meio que vai sair o resgate do liberal Max Stirner que até então
era um absoluto desconhecido autor do passado.
Já
na década de 1880, o comunismo kropotkiniano vai ser francamente
hegemônico entre aqueles que reivindicam o anarquismo. É desgraçadamente
o avanço do revisionismo que conseguiu obliterar e deformar a herança
do bakuninismo. http://www.youtube.com/watch?v=-f978x-kYac&feature=fvwrel
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário